A arte de José Roberto Aguilar engloba suas obras em tela, performances e música, com letras questionadoras e anárquicas. A sua trajetória, nesse sentido, pode ser considerada uma ópera de energia visceral, com derramamento de tinta, corpos nus femininos lambuzados nas mais diversas cores, explosão de citações e vídeos que homenageiam figuras que lhe são caras como Flavio Mota, Mario Schemberg e a esposa Julieta Bárbara, Wesley Duke Lee e Pietro Maria Bardi.
O que ele alcança impressiona pela capacidade de mobilização
interna que gera no espectador. Desmonta a sociedade existente e propõe uma
nova e pessoal. Instaura um realismo fantástico não no sentido dos mestres
latino-americanos do gênero, mas enquanto atmosfera do pensar livremente, sem
amarras de qualquer espécie.
O fantástico de Aguilar tem como base a sua lógica
artística. Após um primeiro impacto, compartilha-se uma mesma alegria de criar
sem a formalidade das academias, num processo em que ele congela o tempo, mas,
paradoxalmente, permite que ele esteja em constante mutação, sempre provocando
o olhar.
As alusões visuais a Jackson Pollock e a sua action painting
funcionam como testemunhos de um período artístico em que pecar era não
arriscar e limitar-se era o caminho para o inferno plástico e existencial. O
perigo de conter as emoções e reprimir-se parece ser o maior alerta de Aguilar
ao longo de seu percurso.
Aguilar se expressa com vigor nas grandes dimensões. Isso
ocorre quando lida com as bandeiras brasileiras, quando recria em sua linguagem
ícones da Revolução Francesa ou ainda ao homenagear o piloto Ayrton Senna,
telas que não permitem que o observador seja indiferente, obrigando-o a um
posicionamento.
O trabalho tem, acima de tudo, um poder explosivo. Basta
entrar no seu ateliê, para perceber que é o movimento que comanda as suas
ações. O abstrato de suas pinturas não está, portanto, tanto na questão da
imagem fugidia de suas telas, mas na capacidade de conseguir condensar e
explodir emoções.
Nascido em 1941, em São Paulo, SP, ele nos oferece uma
capacidade de indagação permanente numa sociedade cada vez mais globalizada e
conformada com sonolenta televisão e pouca efervescência cultural. Sob essa
óptica, cada obra do artista é uma construção de ideias que contaminam com o
comichão do inconformismo.
O Circo Antropofágico e a Banda Performática são então
aspectos de um mesmo Aguilar: o homem-arte. Seja em vídeo ou pintura, seu
desejo é mostrar que a rebeldia só vale a pena se puder ser praticada de alguma
forma. Passar da ideia à realização plástica ou artística constitui o grande
passo a ser dado.
É simples dizer que se é um inconformado. Mais fácil ainda é
transformar esse sentimento em destruição. O desafio é construir, dentro de uma
percepção de não-estar de acordo com o mundo, passos consistentes rumo a um
conceito libertador, no qual o fazer é caracterizado por seguir impulsos e
regras pessoais.
Aguilar, assim, descortina um novo mundo. Sua obra oferece a
possibilidade de gerar no espectador a sensação de que também é um visionário,
apto a participar de uma ópera de energia visceral. Ele crava em cada mente um
grão de incômodo que, dependendo da predisposição e sensibilidade de cada um,
pode ou não frutificar.
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